quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tornar-se mãe (ou, falando de amor)

Quando nos tornamos mães, o mundo passa a ter uma dimensão diferente. O que antes parecia crucial perde a importância, o que era irrelevante adquire contornos de coisa essencial. A esperança é nossa companheira, o amor adquire concretude num papel que afirma que seremos mães.
Pena que a maternidade não venha acompanhada de uma sabedoria maior, de uma paciência mais elástica, de um “google” de plantão para as inúmeras dúvidas que nos assaltam. Ou aos nossos filhos.
Mães não são sacralizadas ao darem à luz. Continuam pessoas imperfeitas, inacabadas, em processo de amadurecimento e de sabedoria. Mães perdem a calma, a estribeira, a classe, o bom-humor. Mães se cansam, choram, ficam perplexas diante da gigantesca tarefa de orientar pessoas. Mães recebem, sem manual de instruções, bebês rosados, gorduchos e chorões nos braços aflitos. E delas se espera que tenham sempre a palavra certa, o grau exato de bom senso, de sabedoria, de saúde corporal, emocional e espiritual.
Nem sempre temos. Muitas vezes nossos próprios conflitos, mal resolvidos ou não resolvidos nos deixam cegas para o que está límpido e objetivo diante dos nossos olhos.
Toda essa fragilidade, no entanto, é compensada por uma grande capacidade de amar que acomete as mães, mal elas se sabem grávidas.
A tempestade hormonal que nos assola, o crescer meio desajeitado de nossos corpos, a pele esticada e manchada, a mudança de nosso eixo de equilíbrio, tudo é compensado pelo latejar imperceptível que percebemos em nosso ventre. Sabemos que uma vida é gestada dentro de nós, para nosso deleite e para nossa aflição.
A ciência pode mostrar passo a passo esse crescer, o ultrassom já visualiza contornos, gestos e expressões. Mas nada disso é necessário para quem agasalha uma vida em gestação. A cada dia os olhos do amor nos mostram carinhas e corpos já muito amados. A cada semana, sabemos que o fruto de nossas entranhas está maior, mais forte, melhor preparado para a vida aqui fora.
E então os recebemos. Ainda enrodilhados, de pele enrugada pelo contato com a água, chorando ao sentir os pulmões se abrindo para o ar da vida, sentindo o frio ou o calor do mundo aqui de fora. E o amor que os manteve crescendo saudáveis na barriga materna parece aumentar. Olhos de mãe que olham para o filho recém-nascido são transbordamentos de ternura, são cachoeiras de emoção.
E a partir daí é um exercício só de afeto, de superação de conflitos próprios e alheios, é acertar às vezes e errar muitíssimas outras, nessa aventura sem par de viver rodeada por filhos.
Minhas filhas e filho, filhos e filhas de meu filho e filhas, filhinhas amadas, filhas da filha de minha filha... tantas vezes quantas sou mãe, nesta lista de amores, amo vocês. Desajeitadamente, imperfeitamente, mas do tamanho exato do meu coração.

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